O árbitro Torsten Berg fala com as duplas sul-coreana e chinesa
As sul-coreanas nesta terça-feira
Oito jogadoras desqualificadas por manipulação de resultados
As oito jogadoras (quatro pares) acusadas de "não terem feito tudo o que lhes era possível para ganhar" as partidas do torneio de badminton, na noite desta terça-feira, em Londres, foram desqualificadas.
A Federação Mundial de Badminton tomou a decisão de desqualificar as oito atletas que foram apupadas pelo público e admoestadas pelo árbitro por terem deliberadamente falhado pancadas. O objectivo, suspeita-se, seria perder os jogos para condicionar as classificações finais nos respectivos grupos. Dessa forma, e uma vez que o apuramento para a ronda seguinte já estava garantida, poderiam evitar cruzar-se com adversários mais fortes.
Foram abertos "dois processos disciplinares a quatro pares femininos", lê-se num comunicado publicado no site daquela federação.
A agência Reuters noticia que as jogadoras em causa não foram expulsas dos Jogos Olímpicos, mas que a sua futura participação em mais provas em Londres é incerta. Fonte do Comité Olímpico Internacional confirmou que a as atletas em causa foram desqualificadas da competição de pares, acrescentando que não havia nenhuma decisão tomada sobre a permanência nos Jogos.
A acusação foi feita pela Federação Mundial de Badminton e visa quatro duplas de atletas representantes da China, da Coreia do Sul e da Indonésia. Segundo a federação, as oito atletas asiáticas não deram o seu melhor, de forma deliberada, durante partidas disputadas no torneio olímpico de badminton, com o intuito de evitar adversárias mais fortes nas rondas seguintes. Agora, arriscam-se a castigos disciplinares.
O fair play (ou desportivismo) olímpico é para ser usado nas derrotas, mas também nas vitórias. E segundo os responsáveis da federação de badminton, estas quatro duplas asiáticas não sabem ser dignas a ganhar, estando sob alçada disciplinar por alegada manipulação de resultados. Até um árbitro acabou por interromper um dos encontros para advertir as atletas.
Conta a BBC que os próprios espectadores que assistiam às partidas disputadas na Wembley Arena, terça-feira, não deixaram passar em claro aquilo que parecia uma deliberada falta de empenho e apuparam as equipas em que participaram quatro das oito acusadas pela federação.
Yu Yang e Wang Xiaoli (China) e Jung Kyung-eun e Kim Ha-na (Coreia do Sul) são quatro das atletas que agora enfrentam a fúria disciplinar dos responsáveis federativos. As duas equipas (a formação chinesa é uma das mais cotadas) já se encontravam apuradas para a ronda seguinte, mas terão tentado perder o jogo para dessa forma manipular a classificação final do grupo A de apuramento.
Os relatos dessa partida – e de outras duas que se disputaram anteriormente – dão conta de volantes (o projéctil usado no badminton) atirados para fora ou contra a rede, no que pareceu ser deliberado. Numa das partidas, que opunha chinesas a sul-coreanas, a jogada mais longa viu o volante voar apenas quatro vezes por cima da rede.
A equipa coreana acabou por vencer o encontro (21-14 e 21-11), o que impede as chinesas de defrontarem as compatriotas Tian Qing e Zhao Yunlei, segundas cabeças-de-série, e que só se encontrarão se ambas chegarem à final.
A formação sul-coreana abandonou o campo, no fim do triunfo, sem dar uma palavra aos jornalistas que aguardavam por entrevistas e que pretendiam explicações para uma partida que durou apenas 23 minutos, conta o Guardian. Do lado chinês, Yu disse: "Na realidade, este adversário foi muito forte. Foi a primeira vez que jogámos contra elas e amanhã [hoje] teremos as eliminatórias, por isso como já estávamos qualificadas decidimos guardar energias para a fase a eliminar."
O árbitro Thorsten Berg admoestou, a dada altura, as jogadoras, mas a "farsa" – como escrevem alguns jornais ingleses – continuou mais tarde, noutra partida, que opunha outra equipa sul-coreana (Ha Jung-Eun e Kim Min-Jung) a uma dupla da Indonésia (Meiliana Juahari e Greysia Poliia). Com ambos os conjuntos apurados para a fase seguinte, tratava-se apenas de definir posições no grupo C e lugares na fase eliminatória seguinte. O mesmo árbitro perdeu a paciência e mostrou o cartão preto, que significa a desqualificação, mas este foi retirado após reclamação do conjunto da Indonésia.Não é a primeira vez que jogadores asiáticos – que dominam o badminton mundial – são acusados de manipulação e estes dois casos levantarão um debate acerca da realização de fases preliminares em sistema de grupos, adianta o jornal londrino Guardian, que cita Paisan Rangsikitpho, membro do comité técnico da federação mundial de badminton. "Vamos tem um verdadeiro debate sobre o que se passou nesta noite, mas antes disso teremos de apurar todos os factos", disse.
As coreanas ganharam este encontro (18-21, 21-14 e 21-12), mas a comentadora da BBC, Gail Emms, medalha de prata nos Jogos de Atenas de 2004, classificou o que se tinha passado como "um embaraço para a modalidade". "Isto são os Jogos Olímpicos. Se o badminton quer salvar a honra, deveriam desqualificar estas equipas e apurar os terceiros classificados do grupo", defendeu, acrescentando: "Isto é simplesmente inaceitável. O público pagou bom dinheiro para ver estes dois encontros."
O Comité Olímpico Internacional pronunciou-se sobre estes casos, manifestando "toda a confiança" em como a federação mundial saberá "lidar com este assunto de forma apropriada e tomar as medidas necessárias".