Mais do Euro 2012
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Portugal é a única selecção do Euro que aposta sempre no mesmo "onze"
Não há selecção como a portuguesa quando se trata de arriscar um "onze" provável em dia de jogo. Dos 16 países representados no Euro 2012, Portugal é o que tem apresentado menor margem de erro nas previsões. Paulo Bento fez alinhar exactamente os mesmos jogadores durante as três partidas da fase de grupos e deu-se bem. Uma estratégia que privilegia os automatismos em detrimento do descanso.
Tanto nos ecrãs gigantes da Arena Lviv como nos do Estádio Metalist, em Kharkiv, os nomes recitados pelo speaker de serviço não sofreram alterações ao longo dos jogos do Grupo B: Rui Patrício, João Pereira, Pepe, Bruno Alves, Fábio Coentrão, Miguel Veloso, Raul Meireles, João Moutinho, Nani, Cristiano Ronaldo e Hélder Postiga. Se dúvidas houvesse acerca do (alargado) núcleo duro da selecção nacional...
Esta aposta reiterada traduz estabilidade nas escolhas e confiança nos titulares, mas não corre o risco de desgastar em demasia alguns dos protagonistas? "Do ponto de vista meramente fisiológico, era preferível descansar jogadores. Mas também iam perder-se automatismos e é o treinador que tem de pesar os prós e os contras dessa decisão", explica José Soares, professor catedrático de Fisiologia na Faculdade de Ciências do Desporto da Universidade do Porto.
A julgar pelos minutos acumulados ao longo da temporada ao serviço dos clubes, o cansaço deveria afectar de forma mais evidente elementos como Cristiano Ronaldo (4870), João Pereira (4255) ou Pepe (3977), mas todos eles têm dado uma resposta à altura. "Exagera-se muito sobre o desgaste dos jogadores. Se pensarmos bem, o espaço entre os jogos tem sido mais do que suficiente para os recuperar confortavelmente", defende José Soares, referindo que três dias de descanso já permitem recarregar baterias.
Dos adversários directos de Portugal na primeira fase do torneio, a Holanda foi o que fez mais mexidas entre os jogos, enquanto a Dinamarca (Rommedahl, lesionado, foi substituído por Jakob Poulsen) e a Alemanha (no último encontro, Boateng deu o lugar a Bender) se limitaram a uma única alteração. Rússia, Espanha e Irlanda seguiram o mesmo padrão e só alteraram uma das pedras do xadrez.
Sim às folgas
Uma das vias utilizadas pelo seleccionador nacional para garantir repouso físico e psicológico aos jogadores tem sido a atribuição de folgas, geralmente no dia imediatamente a seguir ao jogo. Uma filosofia que José Soares aplaude: "Sou daqueles que defendem as folgas que o Paulo Bento tem dado, desde que sejam bem aproveitadas. Muitos dos jogadores até aproveitam para jogar ténis nas folgas. Obviamente que, assim, as folgas fazem todo o sentido", anota, relevando a importância da recuperação activa.
De resto, o processo de reposição dos índices físicos não encerra grandes segredos. Passa pelo descanso, naturalmente, por uma alimentação muito cuidada e pelo cumprimento de um plano de exercícios devidamente orientado. Nesse aspecto, o professor de Fisiologia deixa um apontamento: "Esses exercícios devem seguir o que tem sido feito, ou seja, devem dar continuidade ao trabalho que tem sido seguido, sob pena de se criar inadaptação". Outra "dica": "Para os jogadores que não dormem bem, é aconselhável tomar um indutor de sono".
Mais estabilidade que nunca
A passagem de Portugal aos quartos-de-final ficará marcada por ter sido obtida com a base de atletas mais sólida do Euro 2012, mas não só. Desde que a selecção nacional colocou o pé em grandes competições internacionais, a começar pelo Mundial 1966, esta é a primeira vez em que o treinador não procede a uma única alteração no "onze" escalado para os três primeiros jogos.
A estabilidade nas escolhas tem sido mais notória em Campeonatos da Europa. Em 1984, 2000 e 2008, a equipa inicial manteve-se inalterada nos dois primeiros desafios. Nos Europeus de Bélgica-Holanda e Áustria-Suíça foi aberta a porta aos restantes convocados quando a qualificação estava já assegurada (o célebre hat-trick de Sérgio Conceição à Alemanha é um desses exemplos). Este ano, Paulo Bento não pôde dar-se ao luxo de rodar a equipa frente à Holanda, mas, tal como em 1984, 2000 e 2008, atingiu os quartos-de-final. Pelo menos.
Com Manuel Mendes